Contabilidade deve integrar estratégias.

    Quando se fala em contador, em geral a primeira palavra que vem à cabeça do pequeno e médio empresário é imposto. A associação é feita automaticamente porque durante muitos anos a contabilidade teve como principal e praticamente único objetivo atender aos requisitos do fisco, sendo então uma área totalmente isolada dentro das companhias desse porte, sem responsabilidades estratégicas e ignorada nos processos de tomada de decisão. Segundo especialistas, essa visão deve começar a mudar em pouco tempo por conta das exigências do mercado competitivo.

    "A contabilidade infelizmente não é usada como ferramenta de gestão. O pequeno e médio empresário ainda é muito amador nesse processo", define Ênio Pinto, gerente de atendimento individual do Sebrae. Segundo Pinto, alguns fatores contribuem para esse cenário, como a linguagem altamente técnica usada pelos contabilistas e o fato de os relatórios produzidos por eles não necessariamente refletirem a realidade contábil das empresas. "Muitos desses empresários ainda têm uma atuação informal e não tiram nota de tudo. Se utilizarem esses dados incorretos para tomar uma decisão, pode ser a decisão errada", analisa o gerente.

    A contabilidade, se verdadeira, pode ser utilizada para formação de preços dos produtos ou serviços, por exemplo, ou indicar as estratégias e segmentos da empresa que estão indo bem ou precisam de mudanças.

    A visão de Pinto sobre a falta de uso estratégico da contabilidade é compartilhada por Edimar Facco, sócio da área de auditoria da Deloitte. "No Brasil sempre houve a idéia de que a contabilidade é voltada ao fisco", concorda. Para o executivo, essa postura terá que mudar nos próximos anos por exigência do mercado. Fatores como rigidez dos bancos quanto a informações da empresa para disponibilização de crédito, que deve aumentar por conta da atual crise econômica, e a implementação do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), exigência do governo que visa uniformizar o processo de coleta de dados contábeis e fiscais, devem contribuir para essa mudança de visão, na opinião do executivo.

    Apesar desses impulsionadores, a mudança cultural quanto ao uso estratégico dos dados contábeis ainda encontra um empecilho. Isso acontece porque a adoção das novidades citadas por Facco ainda não são vistas como algo que irá agregar vantagens ao negócio, e sim apenas como fonte de custos. "Atualmente as empresas ainda vêem a implementação dessas ferramentas como despesas e não como um benefício, por isso ainda vão postergar um pouco a implementação dessas facilidades", acredita Facco.

    O executivo cita também outro fator que deve contribuir para o aumento da inclusão dos dados contábeis nas tomadas de decisão das empresas de pequeno e médio porte, que é a crescente implementação de sistemas de gestão como o Enterprise Resource Planning (ERP) nas companhias desse porte. Segundo ele, com a adoção desse tipo de software, é importante que os dados contábeis estejam inseridos nos sistemas e que sejam realistas.

Fonte: Gazeta Mercantil