A História do
Chimarrão

O
Chimarrão é um legado do índio Guarani.
Sempre presente no dia-a-dia, o chimarrão constituiu-se na bebida
típica do Rio Grande do Sul, ou seja, na tradição representativa do
nosso pago. Também conhecido como mate amargo, como bebida preferida
pelo gaúcho, constitui-se no símbolo da hospitalidade e da amizade
do gaúcho. É o mate cevado sem açúcar, preparado em uma cuia e
sorvido através de uma bomba. É a bebida proveniente da infusão da
erva-mate, planta nativa das matas sul-americanas, inclusive no Rio
Grande do Sul.
O homem branco, ao chegar no pago gaúcho, encontrou o índio guarani
tomando o CAA, em porongo, sorvendo o CAÁ-Y, através do TACUAPI.
Podemos dizer, que o chimarrão é a inspiração do aconchego, é o
espírito democrático, é o costume que, de mão – em - mão, mantém
acesa a chama da tradição e do afeto, que habita os ranchos, os
galpões dos mais longínquos rincões do pago do sul, chegando a ser o
maior veículo de comunicação.
O mate é a voz quíchua, que designa a cuia, isto é, o recipiente
para a infusão do mate. Atualmente, por extensão passou a designar o
conjunto da cuia, erva-mate e bomba, isto é, o mate pronto.
O homem do campo passou o hábito para a cidade, até consagrá-lo
regional. O Chimarrão é um hábito, uma tradição, uma espécie de
resistência cultural espontânea.
Os avios ou os apetrechos do mate constituem o conjunto de
utensílios usados para fazer o mate. Os avios do mate são
fundamentalmente a cuia e a bomba.
Etiqueta

O
chimarrão pode servir como "bebida comunitária", apesar de alguns
aficionados o tomarem durante todo o dia, mesmo a sós. Embora seja
cotidiano o consumo doméstico, principalmente quando a família se
reúne, é quase obrigatório quando chegam visitas ou hóspedes. Então
assume-se um ar mais cerimonial, embora sem os rigores de cerimônias
como a do chá japonês.
A água não pode estar em estado fervente, pois isso queima a erva e
modifica seu gosto. Deve apenas esquentar o suficiente para "chiar"
na chaleira. Enquanto a água esquenta, o dono (ou dona) da casa
prepara o chimarrão.
Há quem diga que isso acaba estabelecendo a hierarquia social dos
presentes, mas é unânime o entendimento de que tomar chimarrão é um
ato amistoso e agregador entre os que o fazem, comparado muitas
vezes com o costume do cachimbo da paz. Enquanto você passa o
chimarrão para a próxima bebê-lo, ele vai ficando melhor. Isso é
interpretado poeticamente como você desejar algo de bom para a
pessoa ao lado e, consequentemente, às outras que também irão beber
o chimarrão.
Nesse cenário, o preparador é quem é visto mais altruisticamente.
Além de prepará-lo para outras pessoas poderem apreciá-lo, é o
primeiro a beber, em sinal de educação, já que o primeiro chimarrão
é o mais amargo. Também é de praxe o preparador encher novamente a
cuia com água quente (sobre a mesma erva-mate) antes de passar cuia,
com a mão direita, para as mãos de outra pessoa (ou da pessoa mais
proeminente presente), que depois de sugar toda a água, deve também
renovar a água antes de passar a cuia ao próximo presente. Não se
esqueça de tomar o chimarrão totalmente, fazendo a "cuia roncar". Se
considera uma situação desagradável quando o chimarrão é passado
adiante sem fazer roncá-lo.
Os 10
Mandamentos do Chimarrão

Apesar de simples e informal, a roda de
chimarrão tem suas regras. Verdadeiros mandamentos, que devem ser
respeitados por todos. Se você é iniciante ou está redescobrindo o
costume, observe esses pontos relacionados com boa dose de humor:
1- NÃO PEÇAS AÇÚCAR NO MATE
O gaúcho aprende desde piazito o porquê o chimarrão se chama também
mate amargo ou, mais intimamente, amargo apenas. Mas se tu és de
outros pagos, mesmo sabendo, poderá achar que é amargo demais e
cometer o maior sacrilégio que alguém pode imaginar nesse pedaço do
Brasil: pedir açúcar. Pode-se por água, ervas exóticas, cana,
frutas, cocaína, feldspato, dollar, etc... mas jamais açúcar. O
gaúcho pode ter todos os defeitos do mundo, mas não merece ouvir um
pedido desses. Portanto, tchê, se o chimarrão te parece amargo
demais, não hesites, pede uma coca-cola com canudinho. Tu vais te
sentir bem melhor.
2- NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO É ANTI-HIGIÊNICO
Tu podes achar que é anti-higiênico por a boca onde todo mundo põe.
Claro que é. Só que tu não tens o direito de proferir tamanha
blasfêmia em se tratando de chimarrão. Repito: pede uma coca-cola de
canudinho. O canudo é puro como a água de sanga (pode haver
coliformes fecais e estafilococos dentro da garrafa, não nele).
3- NÃO DIGAS QUE O MATE ESTÁ QUENTE DEMAIS
Se todos estão chimarreando sem reclamar da temperatura da água, é
porque ela é perfeitamente suportável por pessoas normais. Se tu não
és uma pessoa normal, assume tuas frescuras (caso desejes te curar,
recomendamos uma visita ao analista de Bagé). Se, porém, te julgas
perfeitamente igual aos demais, faze o seguinte: vai para o
Paraguai. Tu vai adorar o chimarrão de lá.
4- NÃO DEIXES UM MATE PELA METADE
Apesar da grande semelhança que existe entre o chimarrão e o
cachimbo da paz, há diferenças fundamentais. Como o cachimbo da paz,
cada um dá uma tragada e passa-o adiante, já o chimarrão não. Tu
deves tomar toda a água servida até ouvir o ronco da cuia vazia. A
propósito, leia logo o mandamento abaixo.
5- NÃO TE ENVERGONHES DO "RONCO" NO FIM DO MATE
Se, ao acabar o mate, sem querer fizer a bomba "roncar", não te
envergonhes. Está tudo bem, ninguém vai te julgar mal-educado. Esse
negócio de chupar sem fazer barulho vale para a coca-cola com
canudinho que tu podes até tomar com o dedinho levantado (fazendo
pose de assumida).
6- NÃO MEXAS NA BOMBA
A bomba de chimarrão pode muito bem entupir, seja por culpa dela
mesma, da erva ou de quem preparou o mate. Se isso acontecer, tens
todo o direito de reclamar. Mas por favor, não mexas na bomba. Fale
com quem te passou o mate ou com quem lhe passou a cuia. Mas não
mexas na bomba, não mexas na bomba e, sobretudo, não mexas na bomba.
7- NÃO ALTERE A ORDEM EM QUE O MATE É SERVIDO
Roda de chimarrão funciona como cavalo de leiteiro. A cuia passa de
mão em mão, sempre na mesma ordem. Para entrar na roda, qualquer
hora serve, mas depois de entrar, espera sempre a tua vez e não
queiras favorecer ninguém, mesmo que seja a mais prendada prenda do
estado.
8- NÃO CONDENES O DONO DA CASA POR TOMAR O PRIMEIRO MATE
Se tu julgas o dono da casa um grosso por preparar o chimarrão e
tomar ele próprio o primeiro mate, saibas que o grosso és tu. O pior
mate é o primeiro, e quem toma está te prestando um favor.
9- NÃO DURMAS COM A CUIA NA MÃO
Tomar mate solito é um excelente meio de meditar sobre as coisas da
vida. Tu mateias sem pressa, matutando... E às vezes te surpreendes
até imaginando que a cuia não é cuia, mas o quente seio moreno
daquela chinoca faceira que apareceu no baile do Gaudêncio... Agora,
tomar chimarrão numa roda é muito diferente. Aí o fundamental não é
meditar, mas sim integrar-se à roda. Numa roda de chimarrão, tu
falas, discutes, ris, xingas, enfim, tu participas de uma comunidade
em confraternização. Só que essa tua participação não pode ser
levada ao extremo de te fazer esquecer a cuia que está na tua mão.
Fala quanto quiseres mas não esqueças de tomar o teu mate que a
moçada tá esperando.
10- NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO DÁ CÂNCER NA GARGANTA
Pode até dar. Mas não vai ser tu, que pela primeira vez pega na
cuia, que irás dizer, com ar de entendido, que o cancerígeno. Se
aceitaste o mate que te ofereceram, toma e esqueces o câncer. Se não
der para esquecer, faz o seguinte: pede uma coca-cola com canudinho
que ela etc... etc...
Mate Frio - Tererê

Devido ao fato das
folhas serem cortadas grossas, ao contrário do chimarrão, o tereré
não tem tantos problemas com o entupimento. Quando isso ocorre,
geralmente é devido a uma grande quantidade de mate em pó, indicando
má qualidade da erva usada.
Quanto ao líquido a ser usado para a infusão, o mais popular no
Paraguai e também no Brasil é água gelada e, opcionalmente, gotas de
limão, ou até mesmo suco de frutas e refrigerantes de guaraná ou
laranja. No Paraguai costuma-se adicionar ervas e plantas medicinais
à água. Outras combinações também são possíveis, porém não indicadas
pelos consumidores mais tradicionais.
Modo de Preparo:
1.Coloca-se a erva-mate na guampa, aproximadamente 2/3;
2.Bate-se a erva-mate, virando a guampa em sentido diagonal, vedando
a boca da guampa com a mão, de maneira a fazer com que a erva-mate
ocupe toda a lateral da guampa e não caia;
3.Coloca-se a bomba na guampa;
4.Coloca-se a guampa de pé e se acrescenta o líquido.
A Cuia

A cuia dentre os apetrechos do mate, é a mais cantada e declamada
pelos poetas sulinos. A cuia, que deve ser sempre de Porongo e,
prefencialmente, o Porongo grosso ou doce, é o recipiente mais
adequado para o Mate ou chimarrão do gaúcho, já que não modifica o
seu sabor, não permite que a erva fique lavada precocemente, e não
alterando ainda, a temperatura da água.
Existem cuias, confeccionadas de outros materiais, tais como
madeira, barro cozido, porcelana, vidro e até de plástico, que foram
diferentes tentativas de se buscar outros recipientes para o mate,
em períodos diversos da história. Tentativas essas que restaram
frustradas, já que nenhum se mostrou capaz de competir com o velho
Porongo, descoberto pelos Índios Guaranis e conservado hediornamente,
como vasilha ideal para o mate, cujo plantio é intensificado ano
após ano, já que o hábito de matear continua fazendo adeptos.
Escolhendo Uma Boa
Cuia
Para se escolher uma boa cuia, quer para chimarrão, quer para
mate-doce, deve-se primeiramente levar em consideração o tipo de
Porongo "Casco Grosso e Doce" que é de uma variedade mais apropriada
ao mate. Se para matear sozinho, uma cuia pequena, para matear duas
ou três pessoas, uma cuia média, para matear em rodas de chimarrão,
usa-se uma cuia grande.
Como Curar sua Cuia
de Porongo
Para curar a cuia de Porongo, é necessário que a mesma seja cheia
antes do seu uso, com água quente, não fervida, e cinza de lenha de
fogão ou lareira, para eliminar fungos ou bactérias, evitando mofo e
ainda, enrijecer o casco, deixando-se por aproximadamente 24 horas,
completando-se a água sempre que absorvida pelo Porongo até o bocal
da cuia. Após, a cuia deve ser lavada em água corrente deixando-se
secar por 72 horas, na sombra e em local ventilado. Finalmente,
colocam-se novamente, duas a três colheres de sopa de erva-mate nova
de sua preferência e água quente (não fervida) para não trincar ou
rachar a cuia, e para curtir a cuia parelha.
Após, novamente, deixa-se secar por mais 48 horas; o ideal é repetir
o processo por duas ou três vezes.
Conservando sua Cuia
de Porongo
Uma cuia bem curada é um processo que deve durar de 12 a 15 dias,
exigindo-se muito cuidado e carinho, pois esta não pode cair no
chão, não deve ficar exposta ao sol, e deve ser bem lavada e
enxugada com um pano de algodão.
Para se conservar uma cuia de Porongo sempre boa, sem azedar ou
alterar o gosto do mate, é necessário tomar alguns cuidados, tais
como: Primeiramente, a cuia não deve ser envernizada ou pintada
externamente, deve ser polida com cera para dar brilho natural ao
Porongo.
A cuia depois de curada, não pode ser usada diariamente, de forma
contínua. O ideal, é que se use a cuia em um dia e outro não,
deixando sempre secar em local arejado e na sombra, não podendo
ficar com a boca para baixo, para não mofar.
Como preparar um saboroso chimarrão!


1) Preencher a cuia (recipiente) com 2/3 de erva-mate para
chimarrão.
2) Tapar a cuia e incliná-la ao ponto de encostar a erva-mate num
lado. Pode-se utilizar um aparador, prato ou até mesmo as próprias
mãos para tapar a cuia.
3) Na parte vaga você deve colocar a água morna (apenas para começar
seu chimarrão). Colocando água morna você não queima a erva-mate e
não deixa seu chimarrão amargo. Nas demais cuias a água correta é
aquela que chia na chaleira ou 64ºC, sem deixá-la ferver.
4) Tape a boca da bomba com seu dedo polegar e coloque-a dentro da
cuia descendo-a rente à sua parede, para que não fique ao meio da
erva e não tranque seu chimarrão. Se a água descer após você retirar
o dedo da bomba, seu chimarrão estará pronto.
5) Agora só falta saborear o delicioso chimarrão. Se preferir use um
filtro para a bomba. O filtro impede o entupimento da bomba, desta
forma você se concentra unicamente em apreciar o sabor do chimarrão. |